quarta-feira, 11 de março de 2015

A história das papoulas vermelhas

Há meses eu queria ter escrito esse post, mas as condições de temperatura e pressão não me permitiram fazê-lo no momento apropriado (era novembro, final da gravidez, e eu estava "meio" na correria...). Porém, com um certo atraso, resolvi escrever agora sobre a história da papoula.

Em meados de outubro notei que os apresentadores de todos os programas da BBC - veja bem, TODOS - usavam um broche vermelho na lapela. Parecia uma mancha, um formato esquisito, enfim... eu, na minha vã ignorância, não conseguia definir o que era aquilo. Perguntei se o marido sabia, mas nada... Meu irmão veio passar uns dias aqui em casa e eu comentei sobre minha curiosidade, mas ele também não conseguiu decifrar o que era aquilo pendurado na lapela da galera.

Dias depois comecei a perceber que havia gente na rua usando o mesmo broche. No supermercado, lá estava a manchinha vermelha no saco do pão de forma!

Aí perguntei pro oráculo (leia-se, Google), e descobri que a "manchinha" vermelha era na verdade uma papoula, símbolo da "Royal British Legion" - gente ignorante é o Ó, né?! Descobri que aquele é o broche oficial da entidade, vendido para levantar fundos para ajuda e suporte às famílias daqueles que perderam a vida, em prol da paz e da liberdade que gozam, atualmente, o País, além de programas voltados para aqueles que lutaram pelo Reino Unido em alguma guerra.

A papoula foi escolhida como símbolo porque durante a Primeira Guerra Mundial, quando a parte oeste da Europa foi devastada, as papoulas - bastante comuns na região de Flandres - sobreviviam ao caos instalado nos campos de guerra.

O dia nacional para relembrar os oficiais que lutaram em guerras travadas pelo país ("Remembrance Day") é o segundo domingo de novembro. Nesse dia há vários eventos por todo o País e tradicionalmente a Rainha deposita flores no monumento aos mortos da Guerra (Cenopath). 

No ano passado o início da Primeira Guerra Mundial completou 100 anos e por todo o País, durante o ano, foram realizados vários eventos para relembrar a data, e o "Remembrance Day" foi, portanto, mais "importante". Os eventos duraram praticamente um mês, e não apenas no segundo domingo de novembro. Naquele domingo, contudo, estávamos fazendo o "curso de pais" na maternidade, e respeitamos o minuto de silêncio, feito no País inteiro. A frase dita pela midwife (parteira) que dava o curso, ao final do minuto de silêncio, me fez chorar: "tenhamos esperança de que seus filhos jamais tenham de participar de uma guerra".  

Acho que no Brasil nós não temos a dimensão exata do que é uma guerra. Mesmo em famílias que têm algum integrante que lutou na guerra (e, no meu caso, meu avô paterno foi lutar na Itália), a percepção da guerra não é nada parecida com a percepção de quem é daqui. Acredito que pelo fato de o País ter participado não só ativamente das batalhas, como por ter sido atacado durante o conflito, além de ter perdido milhares e milhares de cidadãos (não só na Primeira, mas na Segunda também).

Sem entrar no mérito dos por quês das guerras, fato é que as pessoas aqui sabem o que é passar por uma guerra e o poder devastador que ela tem. Praticamente todo mundo perdeu familiares nas guerras. Ainda hoje os sobreviventes, seus familiares, e todos aqueles que passaram por momentos tão difíceis, de forma tão próxima, sabem o que é viver num período de escassez, fome, desespero e tristeza. As guerras aqui, portanto, deixaram cicatrizes profundas e doloridas. Perceber isso já me fez ter outra visão do que é uma guerra (anos luz do que é viver uma guerra, claro, mas mesmo assim, o suficiente para que eu pudesse compreender essa tristeza profunda, e sentir um pouco disso também). E, embora mais realista, evidentemente é chocante. Triste demais.

Interessante notar o respeito que todos - inclusive as gerações que não viveram isso diretamente, mas que têm tais memórias guardadas nas famílias - têm por estas datas, movimentos, momentos. Realmente, uma guerra muda a história de um País.

Um dos eventos relacionados aos 100 Anos da Primeira Guerra, foi uma instalação realizada na Torre de Londres, na qual foram colocadas papoulas para simbolizar os cidadãos do Reino Unido que perderam a vida na Primeira Guerra Mundial. Uma papoula para cada vida. E o resultado foi esse. Mais de 888 mil vidas. Um mar de sangue.








A guerra não deixa mais nada além de uma tristeza profunda. Viver aqui me fez perceber isso de forma mais concreta. Só resta torcer para que a estupidez das guerras deixe de se manifestar. Que os homens sejam mais tolerantes e menos irresponsáveis.

Beijos,
Tila.

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