quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Vida Lôca

Vou sair um pouco do tema do blog, para fazer um desabafo e prestar uma homenagem. Aliás, pensando bem, o blog é para contar as novidades do que rola aqui na Maison Bauer e não necessariamente um blog de dicas de Londres, né? Então, nem estou saindo tanto assim do tema... rs

Gente... como é que minha mãe conseguiu cuidar de dois bebês sem ajuda de ninguém? Pior, tendo que lavar um trilhão de fraldas - porque eu e meu irmão éramos alérgicos à fralda descartável - sem máquina de lavar roupas, sem secadora. Cuidou de nós (temos 1 ano e 10 meses de diferença), e da casa sem faxineira, sem empregada, e sem família perto pra ajudar! Ok, no começo ela tinha ajuda da Nana, minha tia querida, que, na época, era adolescente e, embora estudasse, ajudava com o que podia. Mas mesmo assim...

Hoje foi o primeiro dia que fiquei sozinha com os meninos - pra quem não sabe, os dois têm 1 ano e 11 meses de diferença. Quando o caçula nasceu minha mãe estava aqui, o marido tirou licença paternidade, depois chegou meu pai (ficou aqui 20 dias), meu irmão, minha cunhada e meu sobrinho (ficaram 1 semana), minha mãe continuou aqui até o pequeno fazer 2 meses, depois meu marido tirou férias e ficou quase 4 semanas em casa. Ou seja, durante todo esse tempo teve gente aqui em casa pra me ajudar a cuidar das crias. Nossa que maravilha, né? Pois é... Só que hoje o marido voltou a trabalhar e eu fiquei sozinha com os dois em casa. E estava tendo pesadelos com esse dia há 2 meses! Risos...

No começo da manhã tava tudo certo, o caçula nem acordou pra mamada das 8 da manhã e eu tive a folga pra ficar com o mais velho. Chorou porque o pai voltou a trabalhar... mas o pior foi amanhecer com os olhos inchados e vermelhos. Aviso da escola que ele não devia ir porque podia ser conjuntivite. Assim, teríamos de ir ao farmacêutico confirmar e, se fosse o caso, comprar o remédio. 

Cara... já tentou sair de casa com duas crianças num frio de -2 graus? Pois é. É difícil. Difícil nível "quase impossível". 

Primeiro você vai cuidar do mais velho porque sabe que, no momento em que colocar o pequeno no carrinho, ele vai se esgoelar e você vai enlouquecer.

Então você pega o mais velho que, por acaso está na fase do "terrible two" (e se você não conhece essa fase, sorte sua!). Coloca trezentas roupas nele que, enquanto isso chora (muito), porque não quer colocar a calça, não quer colocar a meia, não quer colocar o moletom... tudo isso porque ele acha que você está colocando esse monte de roupa pra ele ir pra escola. 

Passa o tempo todo esperneando e gritando: "Não qué cola! Não qué cola!!". E você explicando que não, que não é pra ir pra escola, é só pra ir pra farmácia (que, by the way, fica no caminho da escola e você já pensa que vai ter de fazer um caminho alternativo senão capaz do menino ter uma síncope e espernear tanto que pode derrubar o carrinho no meio da rua!).

Aí, beleza... você consegue terminar de colocar a roupa nele, mas ainda falta a sua e a do pequeno. Carrega o mais velho pro seu quarto, porque ele ainda está chorando e é capaz de arrancar a roupa enquanto você não está mais de olho. Coloca sua roupa (de novo, bastaaaante roupa) em 2 minutos porque esse é o tempo máximo que os pequerruchos te concedem sem que os vizinhos chamem a polícia para checar o que está acontecendo.

Fica aquela beleza, né? Tudo não combinando. Aquela roupa que parece que você tá indo na feira. Aquela que você usa quase todo dia e não aguenta mais! Seja porque você ainda não cabe em mais da metade do seu guarda roupa, seja porque é a que tá na mão e, também, porque é uniforme de mãe que corre pra lá e pra cá: aquela calça bailarina (sim, ela ainda existe!) preta (mãe ainda gordinha da gravidez só usa preto), uma camiseta qualquer, cachecol, luva, gorro e aquele casaco enorme da Uniqlo, que te faz lembrar ainda mais o boneco da Michelin, porque só ele te defende do frio bizarro!

Agora, vamos pro caçula! Ah, mas peraí... Você resolve já "prender" o mais velho no carrinho porque não aguenta mais ter de correr atrás dele pela casa enquanto tenta colocar a calça ou a camiseta. Meia hora pra amarrar ele no carrinho porque, afinal, com essa roupa de astronauta os cintos de segurança precisam ser afrouxados e, mesmo assim, continuam apertados. Ah, tem de colocar ele dentro do cocoon (pra quem não mora no frio congelante, é tipo um saco de dormir que fica preso no carrinho, para que criança fique mais protegida do frio). Mais um tempinho pra ajustar a porcaria do cocoon! E, ok. Muitas lágrimas e esperneio depois, o bichinho tá preso. Você deixa o carrinho de frente pra TV para ver se a Peppa consegue o que você não tá conseguindo: acalmar seu próprio filho!

E vamos, finalmente, ao caçula! O bichinho tá dormindo então, vai ser mais fácil!! Você pega ele e começa a tentar colocar o casaquinho, rezando para ele não acordar... mas, pá! No primeiro braço que você coloca no casaco ele acorda. Claro. Olha pra você com aquela cara de "porque diachos você me acordou se insistiu tanto pra eu dormir??". Você tenta colocar o casaco o mais rápido que pode, já tenta enfiar um gorro na cabeça dele e corre com ele pro carrinho!

Coloca ele no carrinho e i-m-e-d-i-a-t-a-m-e-n-t-e ele começa a chorar... Porque, afinal, o carrinho tem espinho. Só pode ser isso. 

Enquanto ele tá chorando você coloca a bota (super difícil de amarrar pulando num pé só enquanto você tenta, também, agarrar a bolsa correndo), veste o casaco, pendura o cachecol no carrinho e sai correndo de casa... Nesse momento o choro já virou grito e você só pensa em chegar logo na rua para ver se ele para de chorar porque, por sorte, quando ele anda na rua ele dorme (quer dizer... quase sempre...). 

Mas o elevador não chega e você começa achar que o vizinho ou o porteiro realmente vão chamar a polícia (teve um dia que o porteiro realmente veio ver o que tava acontecendo... me perguntou o que estávamos fazendo com o garoto... Sentiu o drama?). A propósito, depois desse episódio descobri que o vizinho já não mora mais aqui, o que me aliviou um pouco (porque ainda temos vizinhos nos outros andares, né?).

Elevador chegou, você conseguiu descer com as feras, conseguiu colocar seu gorro, cachecol e luva, e, finalmente, saiu do prédio! Tá chovendo. Sério. Tá chovendo. 

Aí você pensa: São Pedro... tá de sacanagem, né? Mas daí resolve que não vai se entregar. Afinal, faz 40 minutos que você está se preparando pra sair de casa... sim, 40 minutos... e retroceder, jamais! Se você volta pra casa vai ter de passar por tudo de novo (afinal, não dá pra deixar os dois assando dentro do carrinho até a chuva passar!). 

Então, você coloca o capuz do seu casaco e vai! Afinal, as crianças já estão cobertas pela capa do carrinho (aliás, o mais novo... porque o mais velho briga com você o caminho todo, pois ele não quer que você abra a cobertura do carrinho... aí você puxa pra fechar e ele puxa pra abrir... tipo, o caminho todo...). E lá vai você, cantando na chuva, porque quem canta os males espanta, né? Portanto, nessa horas nada melhor do que mandar um: "the wheels on the bus, go round and round..."  (porque essas são as músicas que você canta agora).

Ufa.

Tudo isso pra dizer que eu realmente admiro quem conseguiu / consegue dar conta de duas crianças pequenas sem nenhuma ajuda. Porque eu, que tenho ajuda da máquina de lavar/secar roupa e da máquina de lavar pratos, além de faxineira por 8 horas na semana, e com a sorte de ter um marido que é pai, tô dando conta não!!! (ou melhor... tô dando conta... mas tô o pó!!!)

Beijos,

Tila.

PS: eu comecei a escrever esse texto há 6 dias atrás. Hoje, finalmente, consegui terminar e postar porque hoje, por milagre, os dois dormiram ao mesmo tempo E ainda não acordaram (faz uns 30 minutos... agora é correr pra preparar algo pro almoço, e fazer um chá porque mamãe tá dodói e não tem tempo pra se cuidar... obviamente).

PS2: sim, era conjuntivite e ele teve de ficar em casa o dia todo. Detalhe, na semana seguinte não teria aulas, pois é o intervalo do bimestre. Sim, isso significa que teria uma semana inteira com os dois o dia todo em casa.